A decretação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (5), representa, segundo o cientista político Paulo Nicoli Ramirez, um “prenúncio do que está por vir”. A avaliação foi feita em entrevista ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo Ramirez, o ex-presidente desrespeitou, de forma deliberada, as medidas cautelares impostas pela Justiça. Ao participar por vídeo do ato pró-anistia realizado no domingo (4), Bolsonaro infringiu determinação expressa de não se manifestar publicamente. A quebra da medida foi confirmada pela própria assessoria, que divulgou imagens do ex-presidente usando o celular durante o evento.
“Bolsonaro dobrou a aposta. Menosprezou a decisão judicial. Já havia um aviso prévio. Moraes reagiu com a prisão domiciliar. É pouco ainda, mas sinaliza o que pode acontecer entre setembro e outubro: a prisão em cela”, afirmou o cientista político.
Prisão real pode estar próxima
Para Ramirez, caso o STF condene Bolsonaro, é possível que o ex-presidente seja transferido para uma prisão militar ou para uma cela especial da Polícia Federal. Ele é réu por tentativa de golpe de Estado, após a derrota nas eleições de 2022 para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A Procuradoria-Geral da República (PGR) já solicitou sua condenação, no último dia 15.
Ramirez considera que a Justiça está sendo paciente diante das sucessivas infrações de Bolsonaro. Porém, destaca que o Judiciário não pode permitir que o réu continue interferindo nos processos em andamento.
“É como permitir que um líder de quadrilha continue usando celular em público para conspirar. Não é questão de liberdade de expressão, é questão de proteger o processo judicial”, explicou.
Efeitos políticos: bolsonarismo em queda
O especialista também aponta que a prisão domiciliar de Bolsonaro terá efeitos negativos sobre seu grupo político. Com as eleições municipais de 2026 no horizonte, ele avalia que manter vínculo com o bolsonarismo é hoje “a pior estratégia possível” para qualquer candidato.
“A bolha está explodindo. Nenhum político sério vai querer se associar a Bolsonaro. O bolsonarismo virou sinônimo de antinacionalismo”, argumentou.
Ele também criticou a tentativa de interferência internacional promovida pela família Bolsonaro, que teria buscado apoio junto ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na tentativa de influenciar julgamentos no Brasil.
Ato teve baixa adesão e uso político de igrejas
Sobre o ato pró-anistia de domingo, Ramirez avalia que houve baixa participação popular. Ele atribui a presença de público, em parte, ao envolvimento de igrejas evangélicas ligadas ao ex-presidente.
“Houve transporte pago por algumas igrejas. E também pressão psicológica por parte de líderes religiosos, o que é um problema que precisa ser debatido”, alertou.
Segundo o analista, a mobilização não reflete apoio espontâneo e generalizado, mas sim uma tentativa artificial de criar clima político favorável ao ex-presidente.
Justiça precisa ser preservada
Ao final da entrevista, Ramirez defendeu a atuação do ministro Alexandre de Moraes e do STF. Para ele, a esquerda brasileira, embora predominante no momento, respeita as regras democráticas. Já o bolsonarismo, segundo o cientista, constantemente tenta subverter a ordem.
“É preciso aceitar as regras do jogo. A eleição foi perdida. O Judiciário precisa de apoio para seguir com seu trabalho. Alexandre de Moraes está correto em agir”, concluiu.













