O impacto do tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos já é sentido por empresas brasileiras. Desde o dia 6 de agosto, às 1h01 (horário de Brasília), está em vigor a tarifa adicional de 40% sobre produtos exportados para os EUA, somando-se aos 10% já existentes.
O anúncio foi feito por Donald Trump em 30 de julho, com prazo de sete dias para aplicação. Empresas e entidades tentaram incluir seus produtos na lista de exceções, mas não tiveram sucesso.
Produção paralisada e férias coletivas
O efeito foi imediato. Pequenas e médias empresas, dependentes do mercado americano, começaram a adotar medidas emergenciais. Sem fôlego financeiro para buscar novos compradores, muitas optaram por suspender produção e conceder férias coletivas.
A Randa, maior indústria de Bituruna (PR), anunciou que metade dos seus 800 trabalhadores entrará em férias. O outro grupo sairá quando o primeiro retornar. Especializada em portas, molduras e compensados, a fábrica destina 55% da produção aos EUA.
Economia local em alerta
Bituruna, cidade com 15 mil habitantes, vive em torno da Randa. Cerca de 80% da economia local depende da indústria, direta ou indiretamente. As férias coletivas são vistas como forma de “ganhar tempo” enquanto o governo negocia um pacote de ajuda ou tenta incluir o setor na lista de exceções.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, prometeu anunciar medidas até terça-feira, 12 de agosto.
Móveis no vermelho
Em São Bento do Sul (SC), principal polo moveleiro do Brasil, a situação é semelhante. Mais de 3 mil trabalhadores estão de férias coletivas. A região exportou US$ 123,4 milhões em 2023, sendo 62% para os EUA.
Segundo Luiz Carlos Pimentel, presidente do Sindusmobil, importadores americanos já haviam pedido a suspensão de embarques desde julho, quando Trump anunciou o tarifaço.
Ainda não houve demissões, mas, se os pedidos não forem retomados, ajustes no quadro de funcionários serão inevitáveis.
Demissões no setor madeireiro
No Paraná, a Depinus, de Curiúva, demitiu 23 dos 50 funcionários. A empresa exporta painéis e molduras de madeira reflorestada e depende 90% do mercado americano.
O proprietário, Paulo Bot, afirma que manterá cerca de 20 trabalhadores para atender outros clientes, como França e Caribe, e o pequeno mercado interno. Caso as tarifas sejam revertidas em até 20 dias, pretende recontratar os demitidos.
Calçadistas sob pressão
O setor calçadista também sente o impacto. Quase 80% das exportadoras relatam perdas.
A Calçados Killana, de Três Coroas (RS), concedeu férias coletivas a parte da equipe. Segundo o diretor Marcos Huff, não há margem para manter as exportações com a tarifa extra.
A empresa, que destina 70% da produção ao exterior, investiu anos para conquistar clientes nos EUA. O receio agora é perder espaço para concorrentes asiáticos.
Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados, estima que o setor pode perder 8 mil empregos diretos e até 20 mil incluindo a cadeia produtiva.
Agronegócio e mel ameaçados
No agronegócio, o segmento do mel é um dos mais afetados. O Grupo Sama, do Piauí, maior produtor de mel orgânico da América do Sul, alerta para risco de colapso.
O CEO Samuel Araújo afirma que o preço pago ao produtor já caiu R$ 1,50 por quilo, podendo cair mais. Concorrentes como Índia e Vietnã podem ocupar o espaço brasileiro no mercado global.
A perda de mercado, segundo Araújo, pode ser irreversível.
Pacote de ajuda e prioridades
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o plano de contingência terá foco nas pequenas e médias empresas, mais vulneráveis às perdas.
O economista José Roberto Mendonça de Barros reforça que setores menores, como o do mel, não têm como redirecionar exportações. Para ele, o tarifaço é “uma pancada” que pode tirar empresas do mercado por meses ou anos.
Alckmin explicou que a ajuda considerará o peso das exportações na produção de cada setor. Aqueles que destinam mais da metade aos EUA terão prioridade.
Segundo ele, o plano terá duas frentes: manter a negociação com o governo americano e oferecer medidas emergenciais para que as empresas cumpram compromissos internos.
















